The book does not contain a proper description of itself, but it does have a preface made by Olivio Montenegro for the book "O Romance Brasileiro", also published by Livraria José Olympio Editora, Rio, 1953.
"Vamos ser positivos: a literatura de ficção, de autoria feminina, entre nós, tem sido quase sempre de um calete fraco. Sentimental e pueril. E quando aparece com uns estremecimentos maiores de emoção, no fundo é histerismo. A exaltação não é da imaginação: é do desejo. São autoras mais fiéis ao sexo do que à literatura. Entretanto não é a literatura o melhor derivativo para o sexo, nem o mais são. Seria a maternidade bem compreendida e bem aproveitada. Ainda bem que há exceções, e boas exceções. Rachel de Queiroz é uma delas. Rachel de Queiroz é autora já de vários romances e nenhum deles deixa trair o sentimentalismo do seu sexo. O traço, ao contrário, que distingue essa romancista, é o de uma personalidade viril. Sobretudo no seu romance Caminho das Pedras. Há uma ideia matriz nesse romance e em torno dessa ideia é que vai gravitar toda a sua ação: a da desigualdade social da mulher. Mas essa ideia, fique tranquilo o leitor, não se vai ossificar em tese até fazer do romance um instrumento de propaganda política, ou torná-lo variação menos teórica de alguma doutrina social. O que a autora faz é experimentá-la, através do romance, em fatos psicológicos que sejam da mais flagrante realidade humana. É admirável a audácia, ou mais forte do que a audácia, o entusiasmo criador com que a autora dissolve essa ideia na ação do seu romance, tirando-lhe todo o ranço político ou toda a afetação doutrinária. O leitor não sai do seu romance como de uma dissertação dramatizada sobre os direitos da mulher em relação ao homem, e onde se tivesse feito a prova de que a mulher, superior ou melhor do que o homem, era uma vítima da sociedade moderna. A autora é mais arguta, de um espírito mais ágil, e com um instinto mais sagaz do que o das inteligências pedagógicas, que procuram se exprimir em romance, e acabam não servindo nem à pedagogia nem à literatura. Ela sugere mais do que prova. Não procura fazer do leitor um aluno, o seu pupilo, uma criança de primeiras letras sociais: procura fazer dele um colaborador. Deixa-o livre para pensar por si, para julgar, para sentir, para comparar. Mas o drama que ela apresenta tem o cuidado de revesti-lo de todos os requisitos do real, dar-lhe a maior cor possível de verdade. Ela não recua diante de nenhuma audácia, nem se detém tampouco em nenhuma fantasia."
It doesn't end there, but I thought this part gives a good glimpse of what is to come.
Format:
Pages:
124 pages
Publication:
1976
Publisher:
Livraria José Olympio Editora
Edition:
Sixth edition, part nº 74 of a collection called Sagarama of Brazilian Novels.
The book does not contain a proper description of itself, but it does have a preface made by Olivio Montenegro for the book "O Romance Brasileiro", also published by Livraria José Olympio Editora, Rio, 1953.
"Vamos ser positivos: a literatura de ficção, de autoria feminina, entre nós, tem sido quase sempre de um calete fraco. Sentimental e pueril. E quando aparece com uns estremecimentos maiores de emoção, no fundo é histerismo. A exaltação não é da imaginação: é do desejo. São autoras mais fiéis ao sexo do que à literatura. Entretanto não é a literatura o melhor derivativo para o sexo, nem o mais são. Seria a maternidade bem compreendida e bem aproveitada. Ainda bem que há exceções, e boas exceções. Rachel de Queiroz é uma delas. Rachel de Queiroz é autora já de vários romances e nenhum deles deixa trair o sentimentalismo do seu sexo. O traço, ao contrário, que distingue essa romancista, é o de uma personalidade viril. Sobretudo no seu romance Caminho das Pedras. Há uma ideia matriz nesse romance e em torno dessa ideia é que vai gravitar toda a sua ação: a da desigualdade social da mulher. Mas essa ideia, fique tranquilo o leitor, não se vai ossificar em tese até fazer do romance um instrumento de propaganda política, ou torná-lo variação menos teórica de alguma doutrina social. O que a autora faz é experimentá-la, através do romance, em fatos psicológicos que sejam da mais flagrante realidade humana. É admirável a audácia, ou mais forte do que a audácia, o entusiasmo criador com que a autora dissolve essa ideia na ação do seu romance, tirando-lhe todo o ranço político ou toda a afetação doutrinária. O leitor não sai do seu romance como de uma dissertação dramatizada sobre os direitos da mulher em relação ao homem, e onde se tivesse feito a prova de que a mulher, superior ou melhor do que o homem, era uma vítima da sociedade moderna. A autora é mais arguta, de um espírito mais ágil, e com um instinto mais sagaz do que o das inteligências pedagógicas, que procuram se exprimir em romance, e acabam não servindo nem à pedagogia nem à literatura. Ela sugere mais do que prova. Não procura fazer do leitor um aluno, o seu pupilo, uma criança de primeiras letras sociais: procura fazer dele um colaborador. Deixa-o livre para pensar por si, para julgar, para sentir, para comparar. Mas o drama que ela apresenta tem o cuidado de revesti-lo de todos os requisitos do real, dar-lhe a maior cor possível de verdade. Ela não recua diante de nenhuma audácia, nem se detém tampouco em nenhuma fantasia."
It doesn't end there, but I thought this part gives a good glimpse of what is to come.
Format:
Pages:
124 pages
Publication:
1976
Publisher:
Livraria José Olympio Editora
Edition:
Sixth edition, part nº 74 of a collection called Sagarama of Brazilian Novels.